sábado, 25 de julho de 2009

Reflexão 1

Imagine a seguinte situação: de manha você vê um pássaro azul na janela do quarto e a tarde comenta o fato com um amigo. Um mês depois, você e seu amigo relembram esse episódio. Ele afirma que você tinha dito que o pássaro era verde e você diz que era azul. Nesse caso não há uma gravação da conversa para provar quem está certo e nem se hoje aparecesse um pássaro azul na janela resolveria a questão. Portanto, a discussão nesse caso é inútil, pois cada indivíduo está se guiando pelos seus sentidos e os dois se julgam igualmente capazes. Ora, se nos guiamos pelos nossos sentidos, como pode uma pessoa querer que aceitemos a sua opinião em detrimento da nossa? Não está sendo ela levada pelos seus sentidos assim como nós? Ou seja, não é apenas a questão da imposição de uma opinião, mas da própria anulação dos nossos sentidos em favor de outro. Dessa forma, como podemos impor ou sermos persuadidos a aceitar a sentença alheia num caso como esse?

terça-feira, 21 de julho de 2009

Sobre a condição do homem

Gostaria de discutir um pouco sobre quão assustadora é a condição do homem. Para isso vou colocar alguns trechos de um livro chamado Pensamentos. Esse é o livro com o qual mais me identifiquei. Trata-se de uma coletânea de pensamentos do Blaise Pascal (figura ao lado), reunidos em um livro após a sua morte.

Pensamento 199 – Imagine-se certo número de homens presos e todos condenados à morte, sendo uns degolados diariamente diante dos outros e os que sobram vendo sua própria condição na de seus semelhantes e se contemplando uns aos outros com tristeza e sem esperança, à espera de sua vez. Eis a imagem da condição dos homens.

Esse pensamento nos dá uma imagem muito forte dessa condição, quer dizer, amanhã seremos nós e não temos para onde correr, não há nada que possamos fazer para escapar dessa condenação que recebemos ao nascer. Como não se desesperar frente a essa situação? Como não enlouquecer? A resposta é dada pelo seguinte pensamento:

Pensamento 168 – Não tendo conseguido curar a morte, a miséria, a ignorância, os homens lembraram-se, para ser felizes, de não pensar nisso tudo.

Acho que a palavra que melhor define a condição humana é a miséria. Refletindo um pouco sobre essa condição é impossível não chegar à seguinte pergunta: qual o sentido disso tudo, da vida? Quer dizer, se você não tem uma religião para mim não há sentido algum. Por outro lado, se você acredita em Deus você vai ficar a eternidade adorando esse Ser superior por qual motivo? Essa é uma pergunta que acredito que nunca será respondida racionalmente.

Enfim, queria apenas fazer uma reflexão com alguns pensamentos desse grande gênio que, na minha opinião, soube fazer o melhor retrato do homem e do seu lugar no universo. Ele sim tinha o espírito de fineza e de geometria.

Os pensamentos foram retirados da coleção Os Pensadores - 4ª edição (1988) da editora Nova Cultural.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um "Paradoxo" sobre Onipotência

Um argumento bem comum usado para se "provar" a impossibilidade lógica da existência de um ser onipotente (isto é, um ser que pode tudo) é o seguinte: "Se X é onipotente, então X deve ser capaz de criar uma pedra de um tamanho tal que X não possa carregar. Mas então X não é onipotente".
Quero propor que este argumento é falacioso. Sua "estrutura" é algo como segue:

X é onipotente [implica] X cria alguma coisa que X não pode vencer [implica] X não é onipotente (contradição com a hipótese).

Aqui, há um detalhe que não é levado em consideração: ao criar algo, ou ao fazer qualquer ação, estamos situando X em um espaço de tempo. Portanto, há um momento antes da ação e um depois; assim, a falácia consiste em situar X no mesmo lugar do tempo antes e depois da ação. Explicando melhor: antes da ação de criar a pedra, X é onipotente; ao criar a pedra, X abre mão de sua onipotência (o que X pode fazer por definição de onipotência), e então chegamos a um estado no futuro em que dizemos no final "X não é mais onipotente", e aí não há contradição nenhuma.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sobre a justiça divina

Conversando com o Enéas outro dia acabamos chegando a questão “Jesus desceu ao Hades para pregar para os mortos?”. Ele acredita que não, eu não tinha opinião formada, mas pensando um pouco isso resolveria um problema para mim.
Deus criou o homem e amou a Sua criação. Ele criou todos os homens, portanto é justo que Ele considere, inicialmente, todos os homens iguais, ou seja, dê a todos uma chance.
Pela lei todo homem está condenado desde o princípio; a redenção veio com o sacrifício de Cristo. Para os que vieram depois Dele basta “apenas” crer que Jesus é o filho de Deus e o nosso salvador para ganharmos a vida eterna. E para os que vieram antes? E para os que vieram antes de Cristo e não tiveram nenhum contato com o chamado povo santo? O que acontecerá com um chinês que viveu antes de Cristo e nunca teve a oportunidade de ouvir sobre a vinda do Messias? Ora, se quando Jesus veio e anunciou o evangelho, também pregou aos mortos, ou seja, deu uma chance para todos que vieram antes dele, isso resolve algo que me parece uma injustiça. Porque essas pessoas e povos que vieram antes, agora tiveram uma chance assim como os outros. No entanto, se isso realmente aconteceu quer dizer que os mortos ainda têm consciência, algo que também não acredito.
Nada adianta falar que a natureza testemunha a existência do Criador, porque mesmo que a pessoa reconheça um deus criador da natureza não teria como conceber a idéia de um filho do criador que viria para nos redimir. Ninguém chega ao pai senão pelo filho.
Para não me prolongar muito, concluo no final desse post que preciso buscar mais informações e referências para considerar uma resposta razoável. A pergunta que faço é: o que acontece com as pessoas que não tiveram conhecimento de Deus, ou de outros povos remotos que adoravam outras divindades? Esse povo será condenado ou será dada uma chance a eles?