domingo, 17 de outubro de 2010

Incoerência

     Esse é o primeiro post de uma série que pretendo fazer sobre um vídeo que pode ser encontrado no youtube. O video se chama Posicionamento do Pr. Paschoal Piragine Jr sobre as eleições 2010 (clique aqui para ver). Através desse vídeo tive uma grande decepção que talvez comentarei futuramente. Nesse primeiro vou falar de algo que me parece mais simples.
     Um dos pontos que me chamou a atenção foi quando falam do índio. Na parte do infanticído, aos 6min e 9 segundos. Abaixo transcrevi essa parte.


“Milhares de crianças indígenas são enterradas vivas em tribos indígenas do Brasil. Se elas nascerem com alguma deficiência, se forem gemêas ou se o pajé disser que esta não tem alma, estão condenadas a agonia de ficar até horas debaixo da terra e morrer por sufocamento. Sem a lei xxx, que as quer defender, elas serão sacrificadas em nome da cultura e às vistas grossas de quem poderia ajudar.”


     E aí entra a incoerência. Nesse mesmo vídeo eles são contra a união de pessoas do mesmo sexo (aos 3 min e 58seg colocam um discurso da parada gay como se fosse o maior absurdo, veja o discurso). Mas com base em que essa arbitriedade? Simplesmente em nome da cultura deles, ou seja, porque assim eles interpretam um livro que é tido como sagrado por eles. Eis o argumento. Ora, o índio não pode tomar certas atitudes em nome da sua cultura, mas eles podem proibir a união homosexual em nome da cultura deles? Tenha paciência! Não sou a favor da morte de ninguém, mas também não me acho no direito de impedir que duas pessoas sejam felizes juntas somente porque são homosexuais. Apenas não tenho a presunção desses que querem impor o seu estilo de vida sobre todos.
     O pior de tudo é que se A e B (duas pessoas adultas) querem oficializar a sua união, segundo o pensamento encontrado nesse vídeo, não poderão porque isso vai contra a cultura de C (as pessoas desse vídeo). Não entendo por que alguns "cristãos" querem ditar o modo de vida de todos. Se são adultos, já tem discernimento para tomar as suas decisões, então que mal isso trará para esse tipo de "cristão"? Acredito que esse mal seja a própria felicidade dos homosexuais.
     Ainda em tempo, acabo de ver a seguinte notícia no yahoo: "Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) reconhece erro ao posicionar-se contra Dilma" (clique aqui para ler). Para quem não viu o vídeo, um dos apoios do pastor é essa carta da CNBB (2min e 37 seg). É importante notar que a CNBB não está indicando apoio a Dilma, mas apenas reconhecendo o erro de vetar candidatos ou partidos, de desrepeitar a decisão livre e autônoma dos eleitores. Vou torcer para que esse pastor e os que apoiaram a mensagem desse vídeo façam o mesmo.

5 comentários:

  1. Não entendi exatamente onde reside a incoerência. Digo, o pastor é um imbecil nos dois casos... ele cerceia as vontades alheias com base nos seus critérios estreitos.

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  2. A incoerência é de não querer admitir certas atitudes do índio apenas porque é da cultura do índio, mas eles mesmo (pessoas do video) quererem impor certos comportamentos baseados apenas em sua própria cultura. Talvez o titulo não tenha sido o mais adequado. Talvez "Soberba" ficasse melhor.
    Quais são os dois casos a que você se refere? Eu não chegaria a tanto, de chama-lo de imbecil. Na minha opinião, uma parcela dos que se declaram cristãos esquecem de coisas fundamentais como o amor ao próximo e a caridade. Esquecendo esses aspectos fundamentais, se acham nas condições de verdadeiros juízes, aptos a condenar e manipular atitudes e comportamento de outras pessoas com base em ameaças covardes. Eu diria que ele foi irresponsável, talvez não tivesse dimensão do que realmente estava fazendo. E isso me fez lembrar uma frase que um membro de uma comunidade do orkut atribuiu a filósofa Hipátia de Alexandria: "Governar acorrentando a mente, através do medo de punição em outro mundo, é tão baixo quanto usar a força.". E é exatamente isso que ele fez ao dizer as pessoas em quem não votar.
    Bom, a CNBB já se retratou. Vamos ver se ele fará o mesmo

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  3. Talvez ainda mais absurdo que isto seja que, muito provavelmente, ele não esta falando isto por achar que sua cultura "fará bem para os outros" ou algo do gênero, mas sim por motivos políticos mesmo.

    Agora uma questão que acho mais difícil de se responder: Se A e B (do seu exemplo) dizem fazer parte da mesma cultura de C, mas querem oficializar sua união, C tem o direito de tentar impedi-los?

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  4. É isso mesmo, pessoas assim não se importam com o bem dos outros, querem apenas impor certas condutas.

    Respondendo a sua pergunta, eu acho que não. Mas nesse caso C também não é obrigado a reconhecer A e B como seus pares. Sei muito pouco sobre os judeus, então me corrija se eu estiver errado. Suponha que B e C sejam judeus ortodoxos e que eles guardem o sábado. Entao B resolve começar a trabalhar de sábado. Nesse caso C não deve ter o direito de impedir B de trabalhar, mas pode, na minha opinião, não reconhecer C como um judeu ortodoxo.

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  5. Faço uma leitura distinta. Se os direitos de A e B se tornam universais, é dado que C não terá meios institucionais legais para contestá-los. Provavelmente C iria aceitar passivamente a situação (união entre pessoas do mesmo sexo), o que pode transmitir para as futuras gerações, C1, C2, C3, etc., de que se trata de uma prática tão ordinária quanto união entre pessoas de sexos distintos (o que, de fato, é!). Nesse caso, uma vez quebrado um dogma do cristianismo, abrir-se-ia margem para a quebra de outros paradigmas religiosos. A ruptura e a contestação conduziriam, aos poucos, à quebra da capacidade de "acorrentar as mentes" que as lideranças religiosas possuem. Tal fato já ocorre em países com grande número de ateus (Inglaterra, Noruega, Suécia, Vietnã, Finlândia, Dinamarca, etc.). E talvez seja esse o núcleo da preocupação de alguns bispos, pastores e lideranças religiosas.

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